distopia livros não publicados no brasil

Resenha: The Summer Prince, Alaya Dawn Johnson

20:54neo

The Summer Prince
Alaya Dawn Johnson
Arthur A. Levine Books
★★★

Uma história de parar o coração de amor, morte, tecnologia e arte que se passa em meio aos trópicos de um Brasil futurista. 
A cidade exuberante de Palmares Três brilha com tecnologia e tradição, com rodinhas de fofocas e políticos experientes. No meio desta metrópole vibrante, June Costa cria a arte que certamente a fará lendária. Mas seus sonhos de fama se tornar algo mais quando ela conhece Enki, o novo Summer King. A cidade inteira se apaixona por ele (incluindo o melhor amigo de June, Gil). Mas June vê mais a Enki do que os olhos de âmbar e um samba letal. Ela vê um colega artista. 
Juntos, June e Enki apresentarão projetos explosivos e dramáticos que Palmares Três nunca vai esquecer. Eles irão adicionar combustível a uma revolta crescente contra os limites do governo sobre nova tecnologia. E June se apaixonará profundamente, e infelizmente, por Enki. Porque como todo Summer King antes dele, Enki está destinado a morrer.
Pulsando com a batida de um Brasil futurista, queimando com as paixões de seus personagens, e transbordando de idéias, este romance ardente vai deixar você ansioso por mais de Alaya Amanhecer Johnson.
Avaliar esse livro é meio difícil. 
Veja bem, quando o peguei para ler já tinha lido algumas resenhas sobre como a cultura brasileira era usada de forma “errada” pela autora, então eu meio que estava esperando odiar The Summer Prince com todas as minhas forças. Mas, surpreendentemente, eu não odiei.

Sim, a cultura brasileira é usada de forma errada. Bem, na verdade, não é nem errada, mas sim estranha. Eu não senti, em nenhum momento, que o livro se passava no Brasil, nem mesmo quando os personagens foram para Salvador, onde eu nasci/moro. Talvez parte disso se deva ao fato de que a história acontece uns 300 anos depois que o mundo - Brasil incluso - entrou em colapso, mas acredito que a verdadeira razão é que o livro foi escrito por uma pessoa que não é brasileira e que, talvez por isso, não conseguiu realmente entender nossa cultura. Alguns aspectos dela - dança, música, uma ou outra comida típica - foram jogados no meio da narrativa meio do nada, e a forma com que o samba foi mostrado me fez revirar os olhos. Alguns estereótipos ficaram bem visíveis; perdi a conta do número de vezes em que alguém dançou como se fosse morrer e/ou o número de vezes em que o dançar foi extremamente romantizado. Alguns nomes também me soaram estranhos (Oreste? Enki? Wanadi? Que?), mas talvez a história ser no futuro justifique isso.

A personagem principal, June (e o nome americano dela me fez torcer o nariz até a autora explicar o porquê dele, e mesmo assim acho que não custava nada ter colocado um nome brasileiro na guria), me irritou um pouco, principalmente no início. Ela não perde uma oportunidade para afirmar e reafirmar que é a melhor artista de Palmares Três e tudo o que ela faz é supostamente em nome da arte. Apesar de achar o desejo dela de ser famosa algo refrescante (não aguento mais protagonistas de YA que se escondem até da própria sombra), isso eventualmente deixou de ser interessante para se tornar um estorvo. Os pensamentos e falas dela me arrancavam um cala a boca, June pelo uma vez a cada três páginas. E nas primeiras 100 páginas, o plot também é meio inexistente. Eu não fazia ideia de para onde o livro estava indo, e mesmo depois ele é, de certa forma, “solto”. 

Por que três estrelas então? Bem, é porque o livro marca pontos onde muitas outras distopias juvenis perdem. Para começar, os temas que a autora propõe são “discutidos” com muito mais complexidade se comparado a outras distopias do tipo que eu já li (Jogos Vorazes, Divergente, Feios), como por exemplo privilégio (na cidade-pirâmide de Palmares Três quanto mais alto você mora, mais rico/bem visto você é + a exclusão dos homens do poder), o papel da arte nas revoluções, o desistir de uma vida fácil para lutar por algo que você acredita, conflitos entre gerações (em Palmares Três as pessoas chegam a viver por um século e tanto, sempre semi-jovens, e os mais novos, com menos de 30 anos, os wakas, têm suas opiniões sempre desconsideradas, enquanto os grandes basicamente mandam em tudo ignorando o resto todo) e até mesmo a questão de quanto de tecnologia é muito ou pouco. Além disso, a escrita é muito boa, e eu gostei de como o relacionamento de June com seus pais e também o com Bebel, que eu pensei que iria ser a típica garota rival de YA, foram tratados pela autora. 

Outra coisa no mínimo interessante é como “rótulos” para sexualidade não existem em The Summer Prince. Depois que o pai de June morre, por exemplo, a mãe dela se casa com outra mulher, e Gil, o melhor amigo dela (sim, um cara) é quem se envolve com Enki de início. Sexo também é visto de modo bem casual (e o poliamor reina em várias ocasiões), o que não me incomodaria nem um pouco se o brasileiro já não fosse visto como extremamente sexual. Aliás, essa liberdade sexual toda causou algumas cenas bizarras que me fizeram questionar o que se passou na cabeça da autora na hora de escrevê-las.

O próprio worldbuilding é legal, mas fica muito vago em vários aspectos. Até agora não entendi porque existem moon years e como diabos o sistema de eleição funciona a cada ano. E não há explicação quase nenhuma sobre o colapso do mundo como o conhecemos hoje, embora um pouco seja dito sobre a criação da cidade sim.

No geral, é um bom livro. Ia dar 2.5 estrelas para ele, mas a escrita me conquistou e o ritmo é ótimo também. Então, né, 3 estrelas para The Summer Prince

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