Como eu julgo um livro?

17:46neo



(Ou não, eu não dou nota ruim pra tudo só por dar.)

Tem várias coisas que me fazem dar uma certa nota pra um livro, mas no geral creio que posso dividi-las em dois fatores: os subjetivos e os objetivos. Os objetivos são bem simples: são a parte técnica, ou seja, a escrita, o worldbuilding, os personagens, o plot, essas coisas. Os subjetivos… nem tanto (e meio que estão presente na escrita, worldbuilding, etc também). Mas vamos por partes.
  • Escrita
A escrita é um dos fatores mais importantes na hora de julgar um livro pra mim, e não, ela não precisa ser maravilhosa. Para falar a verdade, nunca fui muito atraída por escritas mais… enfeitadas, digamos assim, ou que têm um estilo que foge muito do normal (sou careta mesmo, sinto muito). A única coisa que a escrita precisa fazer pra mim é ser eficiente. Nada de infodumps. Nada de descrições clichés. Nada de frases construídas de modo desajeitado. E só.

Ou seja, não são precisos metáforas incríveis, trechos tocantes e passagens lindas de morrer para eu gostar de uma história. A escrita fazendo o básico pra mim já está mais do que bom, desde que ela consiga injetar emoção na trama. Falo isso porque uma escrita eficiente para mim é a do Brandon Sanderson, mas infelizmente o que me faz morrer de tédio em boa parte dos livros dele é justamente a falta de emoção que permeia as obras dele. No fim das contas, tem que ter um equilíbrio.
  • Plot
Plot tem uma parte subjetiva e outra objetiva. A objetiva é bem simples de se julgar: faz sentido? Tem buracos? Não? Ah, então, beleza.

A subjetiva, obviamente, não é bem assim. Um bom número de livros acaba passando batido por mim justamente porque o plot não me convence, seja porque os acho muito meh ou muito cliché/muito mais do mesmo. Os de Trono de Vidro, The Emperor’s Blades e Um Tom Mais Escuro de Magia foram assim pra mim - não há tecnicamente nada de errado com eles, mas… cadê a graça? Pois é. Faltou. 

Isso tem muito a ver com expectativa, claro, e também com gosto pessoal. Eu amo plot twists, por exemplo. Tem gente que fica de mimimi com eles, mas eu os adoro. Um bom plot twist pra mim é capaz de salvar um livro mediano (cof The Young Elites cof) e eu sempre tento enfiar um nas minhas histórias, já que na minha opinião eles deixam as coisas bem mais interessantes. Isso não quer dizer, claro, que eu vá tirar pontinho de livro que não tem plot twist - mas se eu consigo prever tudo que vai acontecer, ah, então o plot é bem meh, né?
  • Worldbuilding
Aqui falando mais de fantasia (e acho que se aplica a sci-fi também), mas worldbuilding é, ao mesmo tempo, essencial e extra. Explico: eu vou engolir seu mundo com sua pseudo Europa medieval sem problema se você conseguir construí-lo na história com eficiência, ou seja, se você fizer um bom worldbuilding e não se apoiar apenas nas expectativas do leitor, mas se você me der um mundo original de verdade e o construir bem… pontinhos extras para você. Muitos pontinhos. 
  • Personagens
Há um debate daqueles sobre personagens no mundo da literatura - é preciso que você goste deles ou é preciso que eles apenas sejam interessantes? 

Tem gente dos dois times então - os que defendem que a coisa só funciona se você gostar e os que acreditam que você só tem que os achar interessante mesmo. Eu estou no primeiro time - eu tenho que gostar muito do personagem pra realmente me tornar fã da história.

E é por isso que personagens é um aspecto bem mais subjetivo do que objetivo pra mim - sim, eu posso ver quando são bem construídos e desenvolvidos, e com certeza vou dar uma nota melhor pra um livro que tem bons personagens comparado com um com personagens unidimensionais e mal-feitos, mas no fim das contas eu tenho que gostar das pessoas habitando a história para realmente me jogar na trama e dar uma nota excelente. E isso, obviamente, é bem subjetivo. Eu raramente gosto mesmo de personagens (mas quando gosto…) e o autor meio que não tem culpa nesse caso (acho). Ou seja, é bem mais um, it’s not you, it’s me.

Um bom exemplo disso é Game of Thrones. Eu gosto de GOT, mas não sou fã. Motivo? Os personagens. Sim, eles são super interessantes. Não, eu não gosto de praticamente ninguém. Quase todo mundo poderia morrer ali e eu não daria a mínima. Certo, minto; daria, porque não sofri acompanhando certos personagens chatos (estou olhando pra você, Jon Snow, e pra você também, Arya) por 4/5 livros pra depois eles morrerem sem mais nem menos e meu sofrimento ter sido em vão. GOT é uma das poucas séries que me ganha pelo plot e não pelos personagens.

Enfim, o único personagem com quem me importo mesmo é a Sansa. O resto? Meh.
  • Elementos total e completamente subjetivos
E quando um livro é tecnicamente perfeito? Escrita perfeita, personagens perfeitos (as in, bem feitos, e não as in, Mary Sues/Gary Stus), bom ritmo, plot que faz sentido, etc… Enfim, o livro onde ninguém pode colocar defeito, aquele que com certeza vai entrar no top 5 do ano de literalmente todo mundo…. e eu não amo o infeliz mesmo assim.

Foi o que aconteceu com Six of Crows da Leigh Bardugo. Estou até hoje tentando encontrar uma falha naquele livro, mas necas, não acho. É um livro, tecnicamente, perfeito, mas se você me perguntar qual a impressão que ele deixou em mim (nenhuma), ou se ele entrou pra minha lista de favoritos (não entrou), ou qualquer outra coisa do tipo… bem. Por que isso acontece? Por que diabos alguns livros tecnicamente perfeitos não me agradam tanto?

Parei para pensar nisso esses dias e o resultado foi justamente esses elementos total e completamente subjetivos. As coisas que eu gosto simplesmente porque eu gosto (e as que eu não gosto simplesmente porque eu não gosto). Olhando para os fandoms que entrei/faço parte, temos:
  • O Senhor dos Anéis
  • Nárnia
  • O Nome do Vento
  • Aprendiz de Assassino
  • Captive Prince
  • Dragon Age
Essas são as coisas que eu adoro. Uma não é livro, mas para o que eu vou falar aqui funciona. Eu posso literalmente apontar defeitos em TODAS elas, defeitos e/ou pontos de vista que em outros livros/jogos me fariam torcer o nariz e virar as costas. Veja só:
  • O Senhor dos Anéis -> Falta de personagens femininas. Falta de caracterização aprofundada de personagens secundários. Dualidade bem/mal simplista. Branco = bom, negro = mal.
  • Nárnia -> Falta de caracterização aprofundada de personagens secundários. Dualidade bem/mal simplista. Algumas ~opiniões~ cristãs que acho pura merda.
  • O Nome do Vento -> Protagonista palerma. Romance RIDÍCULO.
  • Aprendiz de Assassino -> Falta de personagens femininas, pelo menos no primeiro livro. Ritmo um tanto lento. 
  • Captive Prince -> Falta de personagens femininas (e aqui a falta é tão crônica quanto em O Senhor dos Anéis).
  • Dragon Age -> Total e completa falta de tato na hora de tratar temas como opressão (com os magos, os dalish elves, as castas dos anões, ou literalmente qualquer coisa envolvendo a chantry).
E ainda assim eu daria cinco estrelas pra todas de qualquer forma (para falar a verdade, faz tempo que li O Nome do Vento e não sei se daria cinco estrelas hoje, mas 99% de certeza que sim). Enquanto isso, eu não poderia dizer o mesmo de Six of Crows, que recebeu apenas quatro. Por quê?

Simples: os elementos que eu gosto porque eu gosto e fim de paop. No caso de Captive Prince e Aprendiz de Assassino são personagens; eu adoro o Laurent e adoro o Veracidade. Com O Senhor dos Anéis, Nárnia, O Nome do Vento e Dragon Age, são plot points, temas, que me atraem; mistérios, passados perdidos, magia e coisas do tipo. 

Ou seja, no fim das contas, não importa o quão tecnicamente maravilhoso um livro seja… se não for o meu tipo de livro ou se não tiver personagens que me conquistem, ele não receberá nota máxima. Não é por birra ou por chatice; com esses dois elementos fora da jogada, uma história dificilmente me agrada o bastante para receber cinco estrelas.

Em resumo, muito das minhas resenhas é, obviamente, subjetivo. Six of Crows, como mencionei na resenha dele, é um livro com muitas coisas que não me atraem em nada e isso influenciou muito. Há muito mais em uma resenha ou nota do que a habilidade do autor - o gosto pessoal e até mesmo o histórico do resenhista também entre na soma (principalmente na hora de reconhecer clichés). 

Enfim, o que não funciona pra mim pode muito bem funcionar pra você - é por isso que você só descobre se gosta de algo lendo.

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2 comentários

  1. Também não tenho muita paciência para livros sem personagens femininas interessantes.
    Legal saber sua metodologia.
    Beijoss

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    Respostas
    1. Livros sem mulheres geralmente me matam de tédio porque homens geralmente me matam de tédio, então né, fica difícil KKK
      Beijos!

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