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Dicas de escrita: criando personagens - heróis e anti-heróis

17:14neo


Foi-se o tempo em que heróis eram os únicos protagonistas que víamos por aí; os anti-heróis estão se tornando cada vez mais comuns e mais aclamados, ganhando a simpatia e a preferência de muitos leitores. Mas, ainda assim, o herói continua como o tipo de personagem mais usado e, quando bem escritos, amado pelo público. Com ambos sendo tão popular, às vezes fica difícil decidir qual deve ser o protagonista de sua mais nova história.

Heróis e anti-heróis são, como seus próprios nomes dizem, bem diferentes. Heróis são personagens indiscutivelmente bons, frequentemente movidos pela honra ou por morais convencionais, e por isso são considerados os verdadeiros “mocinhos”. Fazem de tudo para superar seus defeitos e são vistos como exemplos, e quando cometem erros ou desviam do “caminho certo” são consumidos pela culpa. Já os anti-heróis não são tão “perfeitos”; na verdade, eles possuem sua própria moral, são ambíguos e seus defeitos são bem mais marcantes. Anti-heróis fazem coisas que muitas vezes não são vistas como certas – como beber demais, usar drogas, xingar e ser o típico cafajeste. Para resumir, enquanto o herói é movido pela vontade de fazer o bem/o certo, o anti-herói pensa bem mais em manter a si próprio vivo, sendo, portanto, mais egoísta. O herói serve aos outros; o anti-herói serve apenas a si mesmo.

Mas espere aí, heróis não são simplesmente os protagonistas então?

Bem, não. Há uma grande diferença entre ser um protagonista e ser um herói. Um vilão pode ser o protagonista de uma história, por exemplo; logo protagonista ≠ herói, já que em um livro onde o vilão seja o protagonista o herói seria, portanto, o antagonista. É meio confuso, já que antagonistas geralmente lembram muito mais anti-heróis do que heróis, mas é preciso lembrar que antagonista significa apenas adversário. Com isso em mente, compreender toda essa confusão fica mais fácil.

O herói do qual falo aqui, portanto, não é (apenas) aquele cavaleiro branco de armadura que sai por aí salvando donzelas em perigo. Heróis não são restritos a história de fantasia ou de época; Hermione Granger, por exemplo, é uma heroína, já que apresenta muitos traços do conceito que expliquei ali em cima. Sendo assim, um personagem de um livro Young Adult ou de um romance poderia facilmente ser um herói, já que heróis ≠ cavaleiro branco de armadura brilhante. Heróis, anti-heróis, vilões e até mesmo antagonistas são apenas arquétipos que você pode usar para construir o seu personagem, de qualquer gênero ou posição.

  • Heróis
Apesar de continuarem no topo de personagens mais usados por escritores, os heróis não estão com a popularidade tão em alta nos últimos tempos. Associados com frequência a seres perfeitos, habilidosos, extremamente belos e corretos, os heróis são muitas vezes vistos como chatos e irreais, principalmente graças à ascensão dos personagens cinzentos. Essa percepção (errada) se deve ao fato de que muitos heróis, em geral quando colocados como protagonistas, acabam se tornando Mary Sues e Gary Stus. Quero dizer, eles são perfeitos, habilidosos, belos e sempre certos… Essas características não lembram alguma coisa?

Pois é. Heróis foram (mal) escritos como Mary Sues e Gary Stus por tanto tempo que a má fama desse tipo de personagem acabou passando para eles. Porém, heróis não são Mary Sues e Gary Stus por definição. Essa associação existe apenas porque dezenas de heróis foram mal desenvolvidos e mal escritos por diversos autores por aí. Ou seja, não é culpa deles, e sim desses escritores.

Como escrever um bom herói então?

Simples: lembrando-se que eles são como qualquer outro tipo de personagem, e isso quer dizer que você deve desenvolvê-lo do mesmo modo que faz com todos os outros. Acabo deixando o link da matéria básica de criação de personagens em todo post, mas é porque essa é a mais pura verdade; qualquer personagem deve ser escrito e desenvolvido com todos os seus rótulos sendo prontamente ignorados. Ou seja, não crie e construa seu herói em potencial pensando apenas nas “restrições” desse arquétipo, e sim com a mente aberta, por assim dizer, para que ele tenha uma chance de ser parecer real de verdade.

Há, é claro, algumas dicas que você pode conferir abaixo (e que vão parecer repetições de como evitar uma Mary Sue/Gary Stu, porque, bem, elas são, de certo modo).

  • Heróis são bons em essência, mas isso não significa que eles não cometam erros ou que não sintam emoções mais “ruins”, como raiva, inveja, ciúmes e orgulho em excesso. Uma pessoa boa não é incapaz de fazer coisas condenáveis ou de, por exemplo, desejar algo que não é seu. Na verdade, elas se comprovam boas quando cometem erros e reconhecem isso, procurando então não falhar da próxima vez e se redimir pelo acontecido. Um herói que nunca erra e que nunca se sente “tentado” por coisas menos honráveis é irreal e um Gary Stu – ou Mary Sue – em potencial.
  • Heróis, assim como todos personagens, possuem sua própria jornada, e não, não estou falando de jornada no sentido de sair viajando por aí, mas sim de uma espécie de jornada psicológica. Seu herói não pode começar e terminar a história sendo a mesma pessoa – é preciso que ele mude, para melhor ou para pior, não importa. Se os eventos do seu livro não são o bastante para causar essa mudança, algo está errado na história que você quer contar; lembre-se que um plot que não impacta nem mesmo seus personagens não irá comover o leitor.
  • Heróis são humanos (bem, possuem características humanas ao menos) e humanos perdem. Um herói que sempre ganha, que sempre derrota seu inimigo, se torna chato e previsível. Permita que seu herói perca e também que seu vilão/antagonista ganhe; isso irá desenvolver ambos e enriquecer sua história.
  • Heróis também possuem objetivos, medos, manias e um passado que se bem feito pode adicionar muito ao seu personagem. Como já vimos, um herói é uma pessoa boa em essência, mas o que o levou a ser desse jeito? Algumas pessoas nascem boas ou ruins (ou mais inclinadas a serem boas ou ruins, melhor dizendo), mas houve algo no passado do seu herói que o fez tão honrado como ele é hoje? Há algo que o convenceu a sempre agir do modo certo? Se sim, o quê? Respostas para perguntas desse tipo podem te ajudar a construir um herói muito mais real e bem mais capaz de despertar a simpatia do leitor.
  • Anti-heróis
Anti-heróis lembram muito os antagonistas, e por isso boa parte do que serve para um, serve para outro. A principal diferença é que com antagonistas os defeitos geralmente sufocam as qualidades, e embora o leitor simpatize e até goste do personagem, esses defeitos o impedem de realmente torcer por ele (na maior parte das vezes, pelo menos). Já com anti-heróis é o oposto; apesar dos defeitos marcantes, as qualidades geralmente se fazem notar mais com eles, então sim, você pode condenar as ações de seu anti-herói, mas suas qualidades fazem com que você continue querendo que ele se dê bem. Outra característica do anti-herói é que, bem, ele é, de certa forma, o herói da história, mesmo não sendo lá muito respeitável.

  • Para construir um bom anti-herói, lhe dê uma razão para esse “anti”, ou seja, crie algo que justifique ele ter se tornado um anti-herói e não um herói. Esse “algo” geralmente vem do seu passado, e deve ser pensado com muito cuidado. Como já disse uma vez aqui, um passado horrível ajuda o leitor a simpatizar mais com seu personagem, mas se você abusar muito disso pode acabar tornando a coisa toda forçada e melodramática.
  • Anti-heróis não querem ser heróis, pelo menos no início da história. Suas ações são, geralmente, voltadas para sua própria sobrevivência e para seus próprios objetivos, e não são para salvar o mundo ou um certo grupo de pessoas. Anti-heróis são egoístas, e quando fazem uma boa ação esta deve ser bem explicada, já que pode ser o caminho, por assim dizer, para a redenção do anti-herói, coisa que acontece, na maior parte das vezes, no fim da história.
  • Se heróis dependem muito de desenvolvimento, anti-heróis precisam disso ainda mais, principalmente por causa da já citada redenção. É claro que um bom número de anti-heróis simplesmente não vai querer se redimir, mas mesmo assim seu desenvolvimento é muito importante – é ele que mostra aos leitores que apesar de ser um babaca às vezes, seu personagem merece o “herói” do seu arquétipo.
  • Seus leitores precisam se importar com seu anti-herói, e por importar quero dizer achá-lo interessante o suficiente para continuar querendo saber sobre ele e não exatamente gostar do personagem, mas mesmo assim, como eu disse ali em cima, suas qualidades devem se destacar de vez em quando, mesmo que enterradas pelos defeitos. Seu anti-herói não pode se tornar impossível de se simpatizar/de se importar; isso pode fazer o leitor se sentir tão desconectado que sua história acaba morrendo antes de começar. Ou seja, saiba balancear seu anti-herói; isso pode salvar sua história.
Essas são somente algumas dicas que você pode usar para construir tanto seu anti-herói quanto seu herói. Vou ser chata mais uma vez e lembrar que eles são personagens como qualquer outro e personagens devem ser desenvolvidos e tridimensionais.

Enfim, se tiverem alguma dúvida é só deixar um comentário. 

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